A autora de contos e criadora de um blog de resenhas literárias, Isabelle Maciel, fala sobre sua relação com os livros
Por Paulo Carvalho
Isabelle Maciel em sua rotina literária. - Foto: Divulgação/ Instagram Adormecidas
Sentada, imóvel por ter encontrado uma posição confortável, com um semblante carismático, Isabelle Maciel, 20 anos, tem cabelos e expressão facial - sem rugas - que revelam o ápice da juventude. Olhos que expressam uma inquietude que vagueia pela tela do computador, buscando uma linha de raciocínio, que nem sempre é possível, pelo seu domínio do tema abordado, tentando falar o máximo que consegue, em um curto espaço de tempo. Criadora do blog Adormecidas, começou a compartilhar a sua experiência de leitura com os demais amantes da literatura.
Declara, que já na infância, tinha um fascínio pelo mundo dos livros, relembrando, de modo impreciso, com um aperto nos olhos, possíveis memórias que vagueiam a sua mente, dos primeiros livros infantis que teve acesso, no âmbito escolar. Relata, com um pouco de indignação, que é perceptível na aceleração de sua fala, que teve muita dificuldade para aprender a ler, o que marcou a sua infância, mas que aos 6 anos de idade, tinha acesso a uma biblioteca na escola que frequentava como reforço escolar, o que acabou gerando um contato mais profundo com a leitura.
Gesticulando com os braços, afirma de maneira convicta que o ponto de virada para tornar-se uma consumidora de livros começou com a febre do filme Crepúsculo, em que sua mãe a presenteou com um livro da saga. Inquieta, ajeitando os óculos, como uma maneira de conter a êxtase do assunto tratado, revela a sua paixão por capa de livro, criticando as diversas vezes que frustrou-se com designers que, ao seu ver, não condizem com o conteúdo tratado na obra.
Tornou-se clubista, não de times de futebol, mas de leitura compartilhada, relembrando, repentinamente, dos encontros presenciais nas livrarias, antes da pandemia, com um semblante adaptado a um "toque"- de agonia misturada com saudade - que consiste em uma mão repetitiva e repentina nos cabelos. Deixa explícito que esses eventos geravam renda para as livrarias e para as editoras, entristecendo-se com a própria situação compartilhada, em uma reprovação visível nos lábios, entortando-os. Entre sorrisos irônicos e uma seriedade reflexiva instantânea, relata o vício de comprar livros, principalmente, nos sebos, que foi afetada diante das restrições sanitárias, não podendo ir até o local procurar obras literárias e usufruir das diversas promoções de dez reais, a qual ela vivenciava sempre que possível, como cita.
Ainda sobre as livrarias, uma sinceridade no falar, potencializada por uma gesticulação das mãos, faz com que ela reconheça o quão era bom acessar o espaço e os eventos nestes locais, que ao seu ver, era o diferencial que mantinha diversos clientes, pois possibilitava uma experiência diferente, como eventos de autógrafos. De repente, uma expressividade racional, marcada por uma mudança brutal no olhar, expõe que o preço dos livros físicos não condizem com a realidade financeira dos consumidores, o que para ela, tornou-se ainda mais perceptível e potencializado diante da Covid-19, tanto nos livros físicos quanto nos e-books. Mas opta, diante da comparação de preços, por sites online de vendas, ao invés de livrarias físicas.
Reconhece, com um espanto entristecedor, que o tamanho das empresas digitais de livros tende a engolir as livrarias presenciais, principalmente, pelo preço oferecido, o que se tornou um problema, segundo ela, especialmente, para os autores e as autoras independentes e para as editoras de pequeno porte. Isso porque tendem a encarecer, cada vez mais, os seus produtos, para conseguirem lucratividade ou, em muitos casos, até mesmo pararem de produzir. Olha para o Brasil e tenta fazer uma trajetória histórica na sua cabeça, de sua infância até o exato momento, mas reconhece, entristecida, que nunca houve incentivo a leitura, tanto na escola quanto na sociedade.
Encerra a exposição de seus pensamentos com um semblante cabisbaixo, ao deparar-se com a sua realidade, de autora de contos, tendo publicado dois livros no formato e-book, com a desanimadora situação dos livros em papel e digitais do país. Com a fisionomia reflexiva, chega à conclusão de que as incertezas de viver aquilo a qual decidiu trilhar por amor, a escrita e a leitura, vagará pela sua vida, dia após dia.
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