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Mercado livreiro enfrenta dificuldades na pandemia, mas apresenta leve melhora em 2021

Pesquisa aponta queda de 6% no faturamento do setor livreiro e redução de 7,75% nas vendas em 2020. Já 2021, até o momento, registra alta dos índices em todos os meses


Por Juliete Costa


Livraria Arte & Ciência em Fortaleza. - Foto: Divulgação/ Instagram Arte & Ciência


Antes mesmo da pandemia de Covid-19, o mercado livreiro já enfrentava desafios em relação às vendas. A crise econômica e a sanitária agravaram essa situação levando muitos estabelecimentos do setor a fecharem as portas. Aqueles que conseguiram sobreviver viram o faturamento despencar.

“Era 1500 reais por dia e baixou para 200, 300 reais”, conta Geraldo Paulo Duarte, proprietário do sebo O Geraldo, um dos maiores sebos de Fortaleza.

De acordo com dados da pesquisa Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizada pela Nielsen, empresa de análise de dados, e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), em 2020, houve uma queda de 6% em relação ao faturamento do setor livreiro se comparado a 2019. No ano passado, o faturamento de livros vendidos ao mercado consumidor foi de 3,73 bilhões de reais, enquanto em 2019 o valor era de 3,97 bilhões.

A livraria Arte & Ciência também sofreu com a redução no faturamento devido à baixa circulação de clientes. “O faturamento caiu drasticamente. A livraria fica localizada em uma região acadêmica e universitária e, devido a falta das aulas presenciais, não tem movimentação dos alunos e professores e demais clientes que circulavam anteriormente”, relata Weslley Fernandes, vendedor da livraria.

Em 2021, com a abertura das atividades econômicas, o setor apresenta leve melhora. Neste ano, houve alta no faturamento em todos os meses quando comparado ao mesmo período em 2020. Em julho deste ano, o mercado livreiro arrecadou mais de 185 milhões de reais, o que mostra um crescimento de 58,45% em relação ao faturamento no mesmo período do ano passado, que foi pouco mais de 117 milhões.


Ainda assim, o setor sofre com a redução de clientes e a falta de políticas públicas de incentivo. Somado a isso, os sebos e as livrarias também enfrentam a concorrência do mercado digital. Durante a pandemia, tiveram que se reinventar para manter seus estabelecimentos funcionando.


Dificuldades durante a pandemia

As medidas de lockdown impactaram vários setores da economia. Mesmo após a reabertura dos sebos e livrarias, a circulação de clientes continua reduzida, o que implica em queda nas vendas e no faturamento.


Vladimir Guedes, proprietário da livraria Arte & Ciência. - Foto: Divulgação/ Instagram Arte & Ciência


A livraria Arte & Ciência, que possui duas lojas em Fortaleza, uma no Centro da cidade e outra no bairro Benfica, sentiu os impactos da diminuição de público. Um dos funcionários da livraria, Weslley Fernandes, explica que a suspensão das aulas presenciais nos campi universitários afetou as vendas. “Tivemos de lidar primeiramente com o fechamento dos campi universitários nas redondezas de nossas lojas, principalmente a loja do Benfica. O que certamente criou grande dificuldade”, conta.


Estela Alves, funcionária do sebo O Geraldo e cunhada do proprietário, Geraldo Paulo Duarte. - Foto: Juracy Oliveira


O sebo O Geraldo também sentiu os impactos da redução no movimento de clientes. “A frequência de freguês foi pouca. Só aquele que é viciado em ler mesmo”, conta Geraldo Duarte, proprietário do estabelecimento. Contudo, Estela Alves, funcionária do sebo, acredita que os prejuízos não são exclusividade do ramo livreiro. “Agora, nesse período, o comércio está ruim de qualquer forma, mas acho que é pra todo o comércio”, salienta.


Políticas públicas de incentivo

Em junho, foi aprovado o Projeto de Lei 2604/20 que prevê ajuda às editoras e livrarias durante a pandemia. A medida foi aprovada pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados e chega como suporte aos integrantes da cadeia produtiva do livro. A medida visa auxiliar o setor por meio da abertura de linhas de crédito, feita por bancos e agências públicas de fomento, para empresas do ramo editorial e livreiro.

O objetivo é criar três tipos de linhas de crédito: uma específica para o setor editorial, outra voltada para a digitalização e elaboração de estrutura de e-commerce e a última focada em pequenas e médias livrarias e sebos. Esta última no limite de R$ 1 milhão, destinados à compra de livros.


“Toda e qualquer medida do tipo é sempre muito bem-vinda. Num país onde a educação nunca foi um projeto central e o hábito da leitura é de modo geral ainda tão baixo, tudo que possa ser um incentivo para manter livrarias de portas abertas, baratear e democratizar o acesso ao livro, será bem-vindo”, comemora Weslley Fernandes, funcionário da livraria Arte & Ciência no bairro Benfica.

No entanto, muitas vezes, as pequenas e médias empresas não conseguem ter acesso ao crédito por uma série de razões, entre elas a burocracia nas solicitações. As dificuldades em conseguir os benefícios fazem com que muitos empreendimentos não recebam auxílio financeiro, como é o caso do sebo O Geraldo. “Nada. Eu ouvi dizer que a prefeitura não estava cobrando alguns impostos, mas eu nem sei”, comenta o proprietário do sebo.


Mercado digital

Durante a pandemia, o mercado digital apresentou alta no lançamento de exemplares, assim como no volume de vendas e no faturamento. Segundo a pesquisa Painel do Varejo de Livros no Brasil, o número de títulos lançados no mercado digital em 2020 registrou alta de 16%, entre e-books e audiolivros. Em 2019, foram lançados 8900 livros e, em 2020, esse número aumentou para 10330. O faturamento total com conteúdo digital apresentou crescimento nominal de 43%. Quando considerada a inflação do período, o aumento foi de 36%.

A livraria Arte & Ciência atua no segmento de vendas pela internet há mais de dez anos por meio do portal Estante Virtual. “Há a procura de certas obras de todos os lugares do Brasil e por vezes até do exterior. E estar presente nestas plataformas faz com que os livros que dispomos em nosso acervo seja visto de qualquer parte do Brasil e do mundo por estes sítios na internet e desse modo serem enviados àqueles que os quiserem ler”, ressalta Weslley Fernandes.

O Sebo O Geraldo já utilizou serviços eletrônicos de vendas, porém desistiu do segmento. Estela Alves, funcionária do sebo, afirma que o estabelecimento não pretende investir no mercado digital. “A gente colocou no Mercado Livre, mas não deu certo, passou pouco tempo. A gente não vai fazer isso não. Pelo menos agora não estamos pensando em voltar não”, reitera.

Além disso, ela conta que existem alguns empecilhos, principalmente, em relação à entrega dos produtos. “Não é tão fácil assim. Não é simples não porque eles (clientes) exigem muito, ligam quando demora a chegar no destino. Passa do dia de chegar, eles vão cobrar da gente porque o livro ainda não chegou, embora a gente mande. Eles querem porque querem que a gente dê conta e não é com a gente, é com o correio. Isso aborrece”, avalia Estela.


Acervo de livros do sebo O Geraldo. - Foto: Divulgação/ Instagram Sebo O Geraldo


Há ainda a concorrência injusta entre os estabelecimentos físicos e as grandes plataformas digitais. O e-commerce oferece, de modo geral, descontos inviáveis para o setor físico. De acordo com dados divulgados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), em 2020, o preço médio da unidade comercializada de e-book apresentou queda de 21%. Em 2019, o preço médio era de R$15,40. Já em 2020 diminuiu para R$12,10. Enquanto isso, o preço médio de um livro físico, em julho deste ano, é de R$39,72.


Ações de enfrentamento à crise

Para contornar os prejuízos, as empresas do ramo livreiro precisaram promover readequações com fornecedores e distribuidores, prorrogar pagamentos, quando possível, e, em alguns casos, reduzir o quadro de funcionários. A principal saída encontrada para driblar os impactos da diminuição de clientes foi a adesão às mídias sociais.

“Conseguimos em algum grau contornar isto através do incremento de nossas ações em redes sociais e a possibilidade de entrega. O que possibilitou um acréscimo de vendas e envios de livros para todo o Brasil através destes contatos”, relata, Weslley Fernandes, funcionário da livraria Arte & Ciência.


Sebo O Geraldo no bairro Benfica, em Fortaleza. - Foto: Juracy Oliveira


Estela Alves, funcionária do Sebo O Geraldo, comenta sobre a utilização do instagram para efetuar as vendas. “O instagram foi o que ajudou a gente a se reerguer um pouco porque, até então, a gente estava de mãos atadas, não podia vir ninguém, a gente não podia vir para cá (sebo). As pessoas compravam por lá e a gente ia entregar no final do expediente”, detalha.

Ela ressalta que o uso da rede social ajudou a alavancar as vendas, além de apresentar mais vantagens do que as plataformas de e-commerce.

“Pelo instagram, é bem mais fácil porque tem a opção de vir pegar ou mandar entregar. Eles pagam uma pequena taxa, dependendo do valor. Acima de cem reais, a gente não cobra taxa de entrega e assim a gente está se dando bem”, considera.

Consumo de livros na pandemia

O número de exemplares de livros vendidos apresentou queda de 7,75% de 2019 para 2020. Em 2019, foram vendidos 209 milhões de exemplares e, em 2020, esse número caiu para 193 milhões. Já em julho deste ano, houve um aumento de 59,9% nos exemplares vendidos quando comparado ao mês de julho de 2020. Os dados são referentes a um levantamento divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel).


No entanto, as vendas de livros do setor digital cresceram 81% em 2020. Isso porque, com as medidas de lockdown e de restrição de circulação de pessoas, grande parte do público leitor passou a adquirir livros em sites e livrarias virtuais.

Natália Guedes, leitora assídua e criadora de conteúdo digital sobre livros para o instagram, relata que durante a pandemia leu mais, porém a aquisição de livros, que antes era feita em estabelecimentos físicos, passou a ser integralmente em plataformas digitais.

“Eu só comprava na livraria física. Era a coisa mais rara do mundo, eu acho que dá pra contar nos dedos, o que eu comprei em sites. Eu realmente só comprava na livraria, mas aí veio o ano passado e, hoje em dia, eu só compro na Amazon. Mas, assim, se perguntarem eu prefiro a livraria física, sem dúvida, eu sou apaixonada por livraria”, enfatiza.

Acervo da livraria Arte & Ciência. - Foto: Divulgação/ Instagram Arte & Ciência


Os preços atraentes do setor digital também fizeram com que o mercado físico livreiro perdesse espaço. “A questão dos impostos, de pagar o ambiente onde você está, tem aquele valor embutido. Mas assim fica um negócio injusto. Aí, no fim das contas, tem que oferecer algo a mais para o leitor. Tem que ter uma curadoria, um espaço diferente, que era o que acontecia antes da pandemia”, evidencia a leitora assídua, Isabelle Maciel, que também possui um blog de resenhas de livros.

Também autora de livros de contos, Isabelle Maciel, defende a adesão do mercado físico às plataformas digitais.

“Eu acho que não se pode negar que ela (livraria física) tem que se digitalizar, não tem outro caminho porque, no fim das contas, está tudo muito caro e, com as propostas de governo, pelo menos daqui do Brasil, vai encarecer mais ainda. A proposta de taxação dos livros ainda não foi aprovada. Mas, se você reparar, os lançamentos já estão saindo mais caros”, reforça.

A escritora chama a atenção para a falta de políticas públicas com o intuito de baratear os livros e torná-los acessíveis ao público. “A gente pensa que brasileiro não lê, o brasileiro lê sim, mas está caro. Então, como você quer ter acesso à cultura se não existem políticas públicas para diminuir os preços dos livros”, encerra.


Serviço

Acompanhe os profissionais mencionados nas redes sociais.

Livraria Arte & Ciência Instagram: @arteeciencia. WhatsApp: (85) 98768-2261

Sebo O Geraldo Instagram: @seboogeraldo. Telefone: (85) 3226-2557

Blog Adormecidas (Isabelle Maciel) Instagram: @blogadormecidas

Bookstagram Livros e Algodão Doce (Natália Guedes) Instagram: @livrosealgodaodoce








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